Total de visualizações de página

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Filigranas Cênicas

     (Reflexões de um homem de teatro)
-Então minha gente de teatro
Vamos lá ver
O que tenho a lhes dizer!

-O que será que seria fazer Teatro?

-Ah! Fazer Teatro é a arte de rebordar
Lindos momentos da vida
Que a própria vida por isso ou aquilo
Não se importou em fazê-los tão belos,
Quanto na realidade o são.
Portanto... caberá também ao Teatro
Tão delicada tarefa!   

-Por que um texto literário
É tão importante para o Teatro?

-Ah! Responder-lhes-ei agorinha mesmo!
Creio que quem leia o texto abaixo
Obterá a resposta desejada.

-O Teatro e o texto
São parceiros inseparáveis  

-Derepente.... literalmente, derepente
Sabe-se lá porquê
Quiçá por isso e aquilo
Em mãos chega-lhe um texto.
Texto esse que há tempos
O homem de teatro
Procura... deseja
E ansiosamente espera
Então ledo, ao recebê-lo o devora
Tal qual se fora o texto
Uma deliciosa moqueca de pajuari...
Que estivesse no momento a degustar
Gulosamente...ora!

-Então...
Após lê-lo relê-lo ruminá-lo
Por vezes e mais vezes
Enfim o decifra...totalmente,
Tim tim por tim tim!
E por conta de tanto encantamento
Logo se põe... teatralmente,
A montá-lo a coreografá-lo
E a interpretá-lo avidamente
Para só depois e tão-somente,
Ofertá-lo ao encantamento
Do público sedento por arte.

-Inicialmente...logo após lê-lo  
O homem de Teatro
Perde-se em devaneios e sonhos
E dá asas à sua rica imaginação
D´ora avante então
Até que se materializem
Tantos devaneios e sonhos
-Aguçam-se os seus sentidos interiores,
-Desnudam-se... na cabeça dele,
Fascinantes personagens...
-Bordam-lhe a mente
Cenas e mais cenas inusitadas
-Idealizam-se cenários exuberantes
-Sucedem-se mentalmente
Estafantes ensaios etc etc...

-Entretanto...logo em seguida,
Ele se defronta com a realidade
Nua e crua...
Porquanto incontáveis
Serão as dificuldades
Para uma realização
De tal monta:
-Buscas e buscas atrozes
De patrocínios minguados...
De atores e de atrizes de difícil trato,
E de espaços apropriados
Onde se possa ofertar o espetáculo  
À apreciação do público etc etc...

-Mas todavia contudo entretanto
O homem de Teatro não desiste jamais
Da exaustiva montagem da peça
E determinado insistentemente persiste  
Em busca da gloriosa apoteose
Porquanto para ele...
Vamos dizer assim,  
Nela se escondem os aplausos,
A grande retribuição esperada
A seu prazeroso ofício.

Por fim...
No ápice apoteótico do espetáculo:
-Curvam-se gratos os atores e atrizes
E o público satisfeito explode
Em calorosos aplausos...
-Apagam-se os brilhantes holofotes
-Cerram-se as pesadas cortinas
E o homem de teatro sai...
Sorrateiramente anônimo
E desaparece na multidão...
A transbordar a sensação
De dever cumprido
Até a próxima apresentação.

Então, deu pra entender
A relação imprescindível
Entre um e outro?

Montes Claros, 11-11-2012
RELMendes  

sábado, 26 de setembro de 2015

O percurso da vida...

    (Sob o olhar de um homem de TEATRO)
-Lá com seus botões
O homem de TEATRO
Rumina devaneios:

-Ó meu menestrezinho em chegada
Se concluída a tua gestação demorada
A natureza a ti te infrinja a abandonar
O aconchego quente do útero materno
E se isto a ti em nada te apraza...
Então eu te proponho
Veementemente
Que ainda no proscênio desta vida
Protestes gritando
E protestes aos berros!...

-Entretanto...
Se perceberes...logo que do parto
Nessa terra te derrames estrebuchando,
Que neste mundo agitado
Não há outra saída
Senão viver
E viver artisticamente
Então prova tua existência...gritando,
E gritando aos berros!...

-Mas se desde a tua concepção
Tão desejada
És tu tão ansiosamente esperado
Então vem depressa!... Vem logo!
Porquanto de curiosidades
Perco-me em ansiedades

-Mas se vieres agorinha mesmo
Se me mostrares o teu rosto
Ainda oculto,
Contar-te-ei um segredo
Ao pé do ouvido
Então olha só! O meu delírio
Cá tão somente entre nós
Outro não é senão o de ver-te
Atuar no dia a dia
Pelos incontáveis tablados desta vida
Verdinha verdinha
Fazendo reflorescerem
Em mim,
Tantas emoções escondidas

-Portanto...coragem!
Vem depressa! Vem a pés em chão!
Pois aqui um mundarel de gente
Espera-te...ansiosamente
E tem pressa á beça...ora!  

-Lá com seus botões,
O homem de TEATRO
Pensou ter ouvido
Sussurros abusados:

-Olha só aqui...
Seu teatrólogo impertinente!
Presta bem atenção!...
Se versátil será o meu ofício
De futuro menestrel,
Saiba que tanto mais ainda
O será o semblante
Inconstante e volúvel
Do meu rosto a chegar
Entretanto...se mesmo assim
Te dá gosto conhecê-lo...de imediato,
Então escolhas ai
Na ladainha...abaixo,
Aquele que mais do teu agrado seja:

-Um rosto dolorido...
-Um rosto tristonho,
-Um rosto espantado...
-Um rosto assustado,
-Um rosto empalamado...
-Um rosto faminto,
-Um rosto multimascarado
Como é devido
A um verdadeiro artista.
Ah! E quiçá quem sabe então
Este rosto ai tão versátil
Não seja aquele do teu maior agrado?!

-Lá com seus botões,
O homem de TEATRO
Sem economias,
Esbraveja intrépido: 

-Ah, seu desaforado menestreuzinho!
Presta atenção aqui, digo-te eu!
Se a ti eu te estimulei insistentemente
A perder a sagrada invisibilidade,
Foi tão somente porque tenho pressa
Em introduzir-te no profundo segredo
Da sublime arte de interpretar.
Portanto larga de ser besta
E apressa-te a interpretar
Com talento á beça,
Todos os personagens
Que te serão ofertados...
Pois se o tempo e a vida
Ligeiros se esvaem pra todos,
Eu ainda vivo pretendo ver-te
Interpretar e alçar voo ao sucesso
Antes que para mim
Se apaguem os holofotes,
Se cerrem as cortinas
E, de súbito, se me calem os aplausos
Que a mim tanto me aprazem... ora!      


Montes Claros (MG), -24/07/2012
RELMendes

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Livros: “Caminhos Encantados”...

Livros...
Ah!...Quanto eu os amo!

-Folheio-os...
Da primeira a ultima pagina,
Sempre cuidadosamente 
-Leio-os...de cabo a rabo,
Sempre rapidamente
E com muita curiosidade
-Releio-os...capitulo por capitulo,
Sempre lenta e atentamente.
-Ingiro-os...ávido!
-Saboreio-os...ledo!
-Rumino-os...monasticamente,
Como se fora eu um monge
A relembrar textos sagrados
Por horas e horas a fio

Ah!...Sempre os afago...
Carinhosamente
Sempre os manuseio...
Delicadamente,
Até as raias da saliência...ora!

Portanto... Ouso dizer:
Ah! Livros...livros!
Eu sou mais gente,
Porque... Amo-os!
Eu sou mais humano,
Porque... Leio-os!   

Montes Claros, 19-04-2013

RELMendes

domingo, 20 de setembro de 2015

Meu Recanto

Ah! O meu recanto
É uma casinha limpinha
Toda caiadinha de branco
E rodeada por um perfumado
Roseiral em flor

O meu recanto
É uma casinha límpida
Que prima pela transparência...absoluta!                   
Quiçá pelo meu amor a verdade
Que por vezes dói à beça
Mas sempre alumia meus passos
Por onde quer que eu vá

O meu recanto  
É um lugarzinho repleto de paz  
Sem maledicência alguma  
Porquanto nele não há lugar
Pra desavenças tolas
Nem pra más notícias   
Nem pra intrigas deploráveis
Nem tampouco pra infindáveis  
Lamúrias descabidas...

Entretanto...nele se tem de sobra
Ternura...delicadeza,
Gentileza e muita alegria
Que é tudo que se precisa
Pra se polvilhar de felicidade
O nosso dia a dia

Então por tudo isto
E muito mais ainda
É que ele –o meu recanto-
Transborda de serenidade
E benevolência...infindas!

Por fim...O meu recanto 
É uma porta sempre aberta  
Que a todos...generosamente,
Acolhe com imensa ternura
Pra ouvi-los silenciosa
E atenciosamente,
E depois...como uma seta,
Apontar-lhes caminhos
E mais caminhos...

Ah! O meu recanto
É um bolo confeitado
Daqueles que só a vovó
Sabe fazer...ora!

Montes Claros(MG), 17-09-2007

RELMendes

domingo, 13 de setembro de 2015

Ainda hei de pintar estrelas Na saia godê da noite vadia Ah, se hei!

Nunca bordei constelações
Nem tampouco pintei estrelas
Mas que vez por outra
Penso em pintá-las,
Ah, se penso!
Porque tenho a vaga impressão
Que desenhá-las ou pintá-las
No breu da noite escura...
Seria o mesmo que me enveredar  
Na nevoa da ingenuidade...
Até esparrachar-me totalmente
Nos braços ternos da inocência... ora!

Nunca bordei constelações
Nem tampouco pintei estrelas
Mas que vez por outra
Penso em desenhá-las ou pintá-las,
Ah, se penso!
Porque tenho uma vontade louca
De ser alumiado e iluminado
Por estrelas e mais estrelas
De preferência coloridas
Só pra saber como se sente
Uma árvore de Natal...ora!

Nunca bordei constelações
Nem tampouco pintei estrelas
Mas que hei de desenhá-las
E de pintá-las,
Ah!...Não tenham dúvidas
Que as pintarei
Nem que o faça
Apenas em sonhos....ora!


Montes Claros (MG), 13-12-2013
RELMendes


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Não se vá pra Biribiri...

        (Bochicho poético entre mim

          e a poeta Maria Telles)
-Veja só!
Num suspiro profundo
Desnuda-se a alma da gentil poetiza,
Que logo se expôs abusada
A nos revelar seu oculto desejo
Com um desabafo eloquente:

-Ah! Tenham por certo que
Vou-me embora pra Biribiri!
Nem que por isso pagar
Com lágrimas o preço... tenha,
Vez que meu grande desejo
É só correr atrás de lindos sonhos,
Ainda que possíveis devaneios...

-Por ser muito enxerido...ó gentil poetiza,
Vou dar-te um abusado palpite:
Não se vá pra Biribiri...
Sem antes muito refletir!
A não ser que queiras te arriscar
A sofrer de muitas
Dolorosas ausências...

-Ah! Não há porque duvidar!
Vou me embora pra Biribiri
Pois lá terei poéticas inspirações,
Alimentar-me-ei de sublimes devaneios
E por decerto tecerei muitos versos
A beira de um lindo riacho
De orvalho fresco

-Ora! Por ser eu muito metidiço
Ó gentil poetiza,
Vou dar-te, com eloquente certeza,
Um ousado e sábio alerta:
Não se vá pra Biribiri
Sem antes muito refletir!

-Pois...pra se ir embora pra Biribiri,
Tem-se que se desvencilhar
De um tantão de coisas:
-Do nicho aconchegante,
-Das tralhas amontoadas
Pelos cantos,
-Das noites barulhentas
Que escondem o silêncio
-Dos “ belos dizeres
De tantas vozes carinhosas”,
-Dos vestidos enxovalhados
Que...ao corpo,
Tão bem se ajustam,
-Das ternas lembranças
Que como flores
Foram colhidas
Com o passar do tempo
Pelo caminho...

-Enfim...se pra se partir
Pra Biribiri
De quase tudo
Abrir mão é preciso
Parece-me muito caro
O preço então cobrado...ora!

-Ah! Mas...não há nada no mundo
Que a mim possa deter-me
De ir pra Biribiri... ora!
Vez que a estrada
Que pra lá me conduz
É de pertença só minha
E o desejo de evadir-me pra lá
Tornou-se para mim...mania!

Bom! Se assim é
Pois então que se vá!
Eu entretanto
Ficarei por aqui
Chupando araticum
E roendo pequi
Ansioso a te esperar... ara!

Montes Claros (MG), 08-06-2012
RELMendes

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Por onde andará Mariá?

(sussurros de uma saudade!)
-Ah! Mariá...Mariá!...
O tempo passou ligeiro... 
Mas não apagou
Da minha memória...
Por um só instante sequer,
Tua linda imagem
De mulher-ternura
Que ora em mim sussurra
Copiosas lembranças de nós
E de nossas deliciosas caricias...

-Ah! Mariá...Mariá!
Dentre tantos rostos lindos
Que na vida conheci...
O teu...sem sombra de duvidas
De todos, foi o mais belo!

-Ah! Mariá... Mariá!
Eras mignon...sensível...
Acolhedora...carinhosa,
E portanto...de pronto,
alanceaste-me...
O coração descuidado
A alma vazia e carente  
O corpo sedento de amor  
E tudo mais enfim... ora!

-Oh! Mariá Mariá!
Tu eras verdadeiramente
Uma mulher-ternura
Que...a teu redor,
A todos fascinavas...
Sem economias!

-Para mim...ó amada Mariá!
Tu eras uma delicada
Miosótis dourada
Que inesperadamente
Desabrochara...discreta, 
No vadio asfalto da vida
Que recobria a poeira
Do meu fantasioso caminho
De jovem terno e sonhador

-A vista disso...ó amada Mariá,
De ti e de teus tantos encantos,
Eu jamais consegui me esquecer
Nem bem de vagarinho!
Portanto, eu só te perdi de vista
Vez que a saudade de ti
Ainda insiste em morar
Dentro de mim...viu?!

Montes Claros(MG), 05-01-2012

RELMendes

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Um lindo sorriso negro

(Por decerto é o de Da Elvira Gomes
    Minha querida vó materna)
Regado de imensa ternura
Busco insistentemente encontrar
Palavras versos ou rimas
Que possam descrever
Com mais propriedade enfim
Seu lindo sorriso negro
A reluzir ao clarão do luar
Vez que na terra só o contemplei
Em uma bela fotografia antiga
Porque quando nasci
Ele...o belo sorriso negro,
Já havia partido
Lá pra donde
O luar nos alumia  

Entretanto...
Pelo que me disseram
De seus extasiantes fugores  
Verdadeiramente
Era um lindo sorriso negro
Porquanto verdadeiramente
Negro...ora!
Sem sobra de dúvidas
Era um lindo sorriso negro
Espantosamente belo,
Porque essencialmente
Negro... ora!
Mas se na terra por desventura
Não pude desfruta-lo a contento
A vista disso...conclamo
Que...de sua falada belezura,
O digam as águas cristalinas
Do riachinho lá do Timbó!
Que...de seu encantamento,
O propalem o vento o mar
As cascatas e o látex
Que generosamente
Se derrama dos sulcos
Das seringueiras nativas
Lá das terras do Pará... ara!

Às vezes...cá com meus botões,
Em pensamentos lhe pergunto:
Ò formosa descendente de Zumbi    
Rei dos Palmares...
Ó formosa senhora
Do belo sorriso negro
Como o de uma Oxum encantada
Das águas doces lá do Timbó
Se só de ouvir falarem
De tua negritude sorridente,
Por ti inebriei-me totalmente
Será que...pra teres sido
Desta vida arrebatada tão cedo,
(33 anos)
Lá prás bandas do sem-fim
Donde nos alumia o luar...
Não terias tu também
Fascinado completamente    
Os luminosos olhos de Oxalá?
Ah!... Quem realmente saberá
Dizê-lo... senão os céus...
Onde fizera sua eterna morada!...

Montes Claros (MG), 20-11-2013

RELMendes